5 de abril de 2020
Hoje senti mau humor. Não sei se foi por conta da difícil tarefa de me manter entre quatro paredes ou porque tive um sonho. Talvez ambos, e a perspectiva de submeter-me aos terapeutas de plantão é estranha, pois teria que contar precedentes e histórias de vida. Pelo que entendi, essas almas cidadãs estão atendendo as angústias, medos, pânicos, decorrentes da situação, sintomas que, por enquanto, ainda não alteraram o meu cotidiano. Achei esta iniciativa tão importante e benéfica, que quis compartilhar com vocês.
Me chateia que, enquanto profissionais da saúde estão sendo contaminados com destinos desconhecidos ainda, os bairros periféricos de São Paulo voltaram às ruas, algum comércio abriu. Pela lógica pura não é justo. Pela lógica da realidade também não é justo, mas precisa ser compreendido devido às circunstâncias das pessoas que lá vivem. Claro que sabemos da pobreza endêmica do povo brasileiro. Claro que nos revoltamos a ponto de acreditar que UM HOMEM da hora, vai resolver. Por artes do demônio não é assim que acontece. São gerações de muitos homens que precisam contribuir, porém no Brasil vivemos o impasse do ovo e da galinha: qual o menos ruim para contribuir com um processo contínuo de “solução” da nossa pobreza absurda.
Me desculpem, caio sempre no vício de insistir no mesmo assunto: a ignorância e o poder, concluindo que são os descamisados os menos responsáveis por esta realidade.
Por outro lado, contei a vocês que ontem fiz doações para o Hospital das Clínicas e para a compra de PFs para quem tem fome e não tem trabalho. Doei na certeza que as doações não serão desviadas para áreas escuras de bolsos invisíveis. Surpreendo-me que, diferente de muitos países ditos civilizados, nas emergências nós nos mobilizamos como sabemos e sobretudo podemos. Tanto que já vimos montanhas de roupa não distribuída e montes de alimentos deteriorados quando de desastres ecológicos: milhares de pessoas, classe, credo, cor e categorias, correm em socorro dos desabrigados. Quilos de arroz, outros de feijão, roupa quente, roupa velha. Pessoalmente não o faço porque já vi muito destes montes desperdiçados e apodrecidos em cantos de ginásios. Hoje não será o quilo de feijão que vai resolver. Serão milhões de pessoas que precisam de muito mais.
Desta vez a situação é diferente. Inútil dizer que ela afeta ricos e pobres (a cansativa disputa entre os bons da esquerda e os maus da direita ou vice-versa. Que coisa mais chata e nada educativa, em qualquer parte do mundo. Mas assim é a tônica deste século XXI!)
Gostaria que , entre os muitos sinais do que poderia – na linha das mudanças forçadas- acontecer depois da passagem do covid-9, surgisse a percepção concreta da consciência de que não estamos preparados para enfrentar nem as grandes tragédias nem as menores, as de todos dia. O nosso Continente não está! Estamos em guerra contínua, sem trincheiras.
A onipotência não admite calamidade como a do presente. Nós brasileiros teremos que passar a acreditar que elas existem e serão mais frequentes do que imaginamos. Fomos bastante poupados até aqui.
Hoje comi pouco. Talvez ocupada em pensar na periferia e na contaminação dos que moram em um cômodo com 8 pessoas, sem janelas. Apesar deste pensamento sombrio minha esperança está voltada para aqueles que podem doar e para as empresas que estão doando – como nunca – em volumes de milhão. Desta vez não vão enferrujar aparelhos respiratórios, descartados, num canto. Tenho certeza de que todos os esforços que estão sendo feitos para minimizar a tragédia serão revertidos em benefício da saúde pública para depois de tudo isso. Meus bons pensamentos estão voltados para os que estão na frente da batalha sem deserção, a não ser se contaminados.
Gente, leitores, confidentes,
boa noite, bom dia, boa tarde.
Vão me desculpando o mau humor!
Abraço
Bettina
Até penso que Deus se arrependeu de ter colocado gente neste Mundo. Pessoas que por prazer Insano curtem e promovem a caça esportiva, as touradas, matançs de filhotes de focas com golpes de taco de beidebol,farra do boi, tortura e morte de animais em rituais “religiosos” e muito mais Atrocidades. O coronsvirus veio para a Naturesa o quanto somos Crueis e mesquinhos.
Caro Joaquim,
Respondo hoje, domingo de Páscoa. Ouço Andrea Boccelli, cego, que canta a Ave Maria de Pietro Mascagni na Catedral de Milão – deserta- acompanhado apenas do órgão, considerado o maior e melhor do mundo.
Creio que muitos de nós, neste momento, buscam um alivio para seu isolamento forçado ouvindo musica, cuidando de si e porque não, pensando concretamente no mundo. Afinal o que está acontecendo?
Na verdade não sabemos nada nem do hoje e nem do amanhã, mas com certeza sabemos que nós, Seres Humanos, nao somos tão bons como queremos crer, a ver como tratamos nosso habitat e como tratamos os animais. Parece que queremos nos vingar de algo que não entendemos direito: A Vida! Queremos destruir o que a Natureza nos deu de graça.É muito triste e pouco gratificante para a História do Mundo
salpicado de guerras , pragas e mortes.
Uma boa semana para você.
um abraço pascalino.
Bettina
O confinamento trás consigo a perda dos dias e horas. Assim, desculpe-me não ter respondido, até agora, ao seu retorno contando que gostou do escrito 07 , o dia entre quatro paredes.
Pessoalmente não sou tao pessimista quanto você em relação ao Ser Humano. Há claro, os que, inconscientes, destroem a Natureza e pesadas multas devem recair sobre eles. (A Natureza nos é presenteada, porém , como ela vem de graça, tudo que recebemos de graça geralmente não cuidamos)!
O Ser Humano sempre foi predador desde os primórdios de nossa era para sobreviver e chegar até aqui. Concordo contigo, que o Homem foi transformando as suas necessidades primárias, a medida que o mundo foi se “modernizando”e ou avançando até hoje em dia. Ele não mais destrói a Natureza para poder sobreviver. Ele a destrói por questões varias, sendo a principal, o ganho econômico. Sou fatalista: podemos e devemos salvar a Natureza de nós mesmos, mas não creio que conseguimos mudar o Homem que as destrói, qualquer que seja sua motivação: lazer, maldade, perversidade.
Um abraço e muito obrigada por me ler.
Nao deixe de enviar seus pensamentos. Sempre vou responder!
Bettina