12 de abril de 2020
Hoje vou transcrever um poema como sendo uma página do Diário em Quatro Paredes. É do meu poeta preferido Mario Quintana.
Fui à biblioteca buscar o livreto de seus poemas, depois que li no jornal duas notícias, quase escondidas, que para mim são importantes. Vou repassá-las a vocês e depois transcrevo o poema que chegou a me tocar nesse momento que nós, obedientes, permanecemos em casa.
A primeira notícia dizia em seu título:
Em vez de “conter”, a Nova Zelândia tenta eliminar o surto, e em destaque: “O início da desaceleração refletiu um triunfo da ciência e da liderança. A premiê abordou isso de forma decisiva e enfrentou a ameaça^.
Estas quatro palavras sublinhadas são de suma importância porque demonstram a ação de um líder que tem caráter e coragem. (Li esta notícia depois que fiquei nauseada com o que anda acontecendo por aqui em matéria de liderança, caráter, coragem. Confesso, tive muita inveja). Dirão: “A Nova Zelândia é menor do que qualquer um de nossos estados. Não dá para comparar quando se trata de uma pandemia!”
Dá sim!
Sem liderança, sem caráter e falsa coragem na pessoa que dirige uma nação – sobretudo nesses tempos inusitados – nada tem como chegar perto do que poderia ser o certo.
A outra notícia foi a morte do jornalista Randau Marques, pioneiro no jornalismo ambiental e fundador da SOS Mata Atlântica. Morreu com 70 anos, trabalhou 21 anos no Jornal da Tarde. Menos um para conscientizar ou defender a devastação das Matas Brasileiras.
A poesia de Mario Quintana caiu profundo e me fez meditar sobre a vida e suas circunstâncias, neste caso, a vida em confinamento, pois caso não estivéssemos, talvez fossemos condenados a morrer por conta da bolinha e seus espinhos venenosos. O confinamento nos traz alguns temas filosóficos como Deus e a Morte. Este poema não deve ser entendido como um recado pessimista nem como homenagem aos que já morreram por conta do vírus. Não! Não estamos todos condenados nem seremos decapitados (pelo rude braço do verdugo, aqui simbolizando o vírus). Não! Não é esta a minha intenção ao copiar este poema. É apenas um olhar poético sobre o confinamento ao qual estamos condenados até segunda ordem.
Aqui vai:
O olhar
“O último olhar do condenado não é nublado
sentimentalmente por lágrimas
nem iludido por visões quiméricas.
O último olhar do condenado é nítido como uma
fotografia:
vê até a pequenina formiga que sobe acaso pelo
rude braço do verdugo,
vê o frêmito da última folha no alto daquela
árvore, além…
Ao olhar do condenado nada escapa, como ao
olhar de Deus
– Um porque é eterno.
O outro porque vai morrer.
O olhar do poeta é como o olhar de um
condenado…
como o olhar de Deus.”
Caríssimos, através da poesia fiz minha reza hoje
Boa noite, bom dia, boa tarde, a todos um bom domingo de páscoa.
Bettina
FIQUEI MUITO CONTENTE E AMEI O TEXTO. ESPERO RECEBER MAIS DESTA BELEZA👌💓👈
Prezado Carlos,
Muito obrigada por seu retorno. Sempre digo que ao voltar para mim um elogio – ou crítica –
aos meus textos, a felicidade é grande. Se todos leitores – como você – escrevessem uma palavrinha
para os escritores, estes seriam pessoas realizadas.
A Páscoa já passou mas busco em meus textos – apesar de ser um diário do Covid-19 – passar alegria e ou reflexão a qualquer momento do dia
mês ou ano. Nao sei se poderei corresponder à sua expectativa de publicar toda vez um texto “desta beleza”,
como você tão gentilmente escreve apesar de que este é também um dos meus preferidos. Mas prometo fazer o possível! Quem sabe você encontra outro que você goste! Me avisa!
um abraço e mais uma vez agradeço a sua atenção!
Bettina