23 de abril de 2020
Li em algum lugar que para escrever, é preciso de tempo. Também acho, só que não encontro esse tempo. Quando a quarentena começou, fiquei exultante e pensei:” oba, vou poder me dedicar ao romance que ensaio há muito tempo começar”. Qual o quê!
Sim, a quarentena trouxe um tempo no qual a gente fica mais tempo consigo mesmo, em silêncio – caso você more só. É um tempo do silêncio que vem de dentro e nos ocupa com reflexões sobre coisas concretas desse nosso dia a dia que se mostra inusitado. A primeira questão que emergiu logo nos primeiros dias, enquanto escovava a Lola, – minha querida Labradora, quase paralítica, de 15 anos de idade – chegou com uma pergunta que sei todos se fazem em tempos “normais”:
– “por que vivo cansada e correndo feito uma hiena atrás da sua presa?” A revelação chegou quase que instantânea:
“- ora, exatamente, você é igual a hiena em disparada atrás de algo que ela acha (eu no caso) imprescindível para sobreviver”.
No dia seguinte chegou outra pergunta:
“então o que é o tempo?”
E por aí escorrem os pensamentos para o passado, o presente e o futuro. Nostálgicos, tristes ou alegres, e no presente, inseguros. Como será a volta dos bichos para esta nossa selva tão íntima.? A nossa reintegração no convívio social? Tenho lido e ouvido muitas interpretações, mas que não passam de especulações e incertezas. (Cá para meus botões, acho que o Mundo todo, todos os países do Planeta, ficarão mais pobres. Os pobres mais pobres e os ricos menos ricos). O Mundo terá que se reconstruir e nós humanos talvez reformular nossa visão de mundo.
Meu único medo, e este me apavora: não temos um líder (mundo afora) para nos conduzir. Um Winston Churchill, como exemplo, o primeiro ministro inglês à época da Segunda Guerra Mundial que conduziu à vitória os principais atores do conflito, salvando a Europa de desaparecer do Mapa Mundial.
Mas chega desta conversa que está mais para filosofia do que para confinamento. A verdade é que em casa, desse jeito que nos encontramos, muitos pensamentos e informações estão chegando e passando pela nossa cabeça! Uns descartáveis, outros nem tanto. Gosto de guardar informações.
Recebi algumas mensagens bem engraçadas no Whats. Uma delas perguntava se tomávamos banho todos os dias. Muitos kkk e no início fiquei com vergonha de responder. Pensei se falaria uma mentira ou a verdade. Decidi pela verdade. Teve dias em que esqueci. Não saindo de casa, ela impecavelmente borrifada de álcool, a hora costumeira do banho passava batido. Pronto. Confessei.
Uma outra mensagem afirmava estar muito feliz com o retiro forçado. A pessoa não precisava mais pensar na bolsa, nas chaves, no celular, na carteira, caneta e demais apetrechos da bolsinha colorida que as mulheres precisam carregar todos os dias antes de sair de casa. Um desses hábitos que acabam sendo automáticos nos dias normais. A vida simplificou muito. E isto é uma novidade maravilhosa.
Chegou uma mensagem bem menos engraçada, mas a propósito, na medida que o número de óbitos aumenta. Perguntava se eu conhecia um parente, um amigo, um conhecido, que já teria se infectado pelo covit-9? Sim, a mãe do meu genro – na faixa de risco – e o cunhado da empregada na idade de 36 anos. Portanto, estamos perdidos quanto às estatísticas e informações contraditórias. Procuro esquecer. É penoso e alarmante demais.
Uma Vida é Absoluta. Única. Pertenceu a alguém! A morte idem. Leva este alguém embora da Vida. Não preciso conhecer a pessoa que se foi: A Vida Humana é concreta. Real. E não é na minha que tenho pensado nestes dias e sim na Vida Humana, de toda a Humanidade.
Caros leitores, às vezes me excedo na filosofia. Gosto e a estudo sem nenhum fim específico, apenas para conhecer. Se meus textos estão “pesados”, enfadonhos, por favor, me avisem. Por outro lado, porém, estes últimos dias andei um tanto cabisbaixa: com menos certezas, mais insegura com o dia de amanhã! Faz parte do quadro atual em que nos encontramos, e quer me parecer, bem normal nos sentirmos assim!
Bom dia, boa tarde, boa noite.
Muito obrigada pelos vossos retornos! A alegria do dia!
bettina
Amei o texto.
Cara Elvira,
Muito obrigada por sua única palavra: “amei”! é tudo que preciso saber para lhe responder
com muito carinho. É algo de muito importante para mim saber que você gostou. A Elvira gostou!
Escrevo pensando nos leitores, não em mim, mas repondo para você com prazer.
Este texto surgiu de uma afirmação de amiga. Não tinha me dado conta: O que o “fiquei em casa”, promoveu
em nós mulheres!
A nossa bolsa fatídica deixou de ser uma chateação principalmente quando a gente procura algo dentro
dela e não achamos e ai ficamos nervosa. Nos sentimos incompetentes. Mas não é verdade! Quantas de nós não está
dando conta da quarentena, com ou sem bolsa?
Mas a pergunta seguinte que nos colocamos: realmente precisamos de tudo que “guardamos” dentro dela?
Não sei responder à esta pergunta. Sei que, nao tenho tudo que imagino precisar dentro da bolsa, sinto-me desprotegida.
Que importância grande tem a bolsa para a vida de uma mulher!
Já a menção ao banho foi uma observação comigo mesma e tive que confessar porque imagino que deve andar acontecendo
com mais pessoas trancafiadas em casa. Aos poucos, com o corona-19 ainda vivo, vamos nos tornando um tanto “selvagens”
– caso moramos sós – ! Ainda não como com as mãos, mas falta pouco… kkk.
Enfim! Continue lendo estas cronicas da pandemia. Espero que v. continue amando e a cada retorno seu vou te agradecer de coração!
Valeu!
Um abraço
Bettina
Seu texto nos faz viajar p dentro de nós !
Beijo !