27 de abril
Não é que hoje, pela terceira vez esta semana, passou o carro vendendo pamonhas! Ininterruptamente, ele comunica um mantra no seu altíssimo alto-falante:
“Pamonhas, pamonhas, pamonhas.
É o carro das pamonhas passando por aqui.
Pamonhas, pamonhas, pamonhas.
Gostosas!
Milho verde, curau,
É uma delícia!
Pamonhas, pamonhas, pamonhas.
Doces com leite de coco, salgadas e milho verde no pratinho.
Uma delícia!
Temos suco de milho geladinho para você.
Atenção:
Cartão de crédito e débito.
Pamonhas, pamonhas, pamonhas.”
Na verdade, um poeta. Pela entonação de voz, um ator. Como comerciante, eficaz. Mas ele tem um outro mérito: na quarentena, isolados que estamos em nossos lares, a sua poesia e voz são bem-vindas. Uma voz de verdade! Falo com os amigos através das plataformas todas, assisto aulas, filmes, youtubes, mas nada equivale à voz simpática e vivente do meu amigo das pamonhas. Já o aguardo para a próxima vez! Quero ouvi-lo muitas vezes. Ele fará parte das minhas boas lembranças D.V (depois do vírus).
Quando preciso “mudar de ares”, mas ainda conformada por estar entre quatro paredes, acendo uma vela cheirosa. O ar parece mudar de cor. Fica mais nítido, mais respirável, como se estivesse em outro lugar. Se o perfume é amadeirado passeio por um bosque aspirando o CO2 emanado das árvores. Se tem aroma de rosas, vagueio num jardim florido e bem cuidado, de limão, degusto uma caipirinha à beira da praia. Vale a pena tentar e viajar através dos cheiros da natureza capazes de nos evocar imagens prazerosas.
Boa noite, bom dia, boa tarde.
Um abraço e não se esqueçam quais foram os sentidos e ruídos que sentiam e ouviram nesses dias em nada ordinários. Vai ficar tudo bem!
Como vc exemplifica a importância de detalhes tão reais e tão especiais no texto !
O detentor da voz “ pamonha pamonha” faz parte da minha vida q sempre morei nos jardins !!!
Adorei !