10 de junho de 2020
Não deixa de lembrar ficção científica, mas já é verdade em cidades como Cingapura. Apesar de não me ater a comparar diferenças entre países (como o fato de um país ser mais desenvolvido do que outro) , o caso que vou descrever, só parece existir em Cingapura.
Os cingapurenses conceberam um cachorro robô que aborda pessoas, em espaços públicos, educadamente, para que obedeçam às regras impostas sobre a distância social por conta do corona. Quem não obedece é multado. Não sei se é multado pelo cachorro propriamente dito, tipo como um cartão vermelho ou se há um policial que o conduz. Suponho e desejo, na verdade, que haja um humano por detrás desta pobre e triste realidade para aqueles que amam seus pets. Minha Lola labradora, de 15 anos, com artrite , apesar de saber guiar cegos, não sabe multar pessoas que não obedecem às ordens de comportamento civil.
Lembrando desse episódio, pensei o seguinte: aparentemente, aqui no Brasil, não atingimos a curva descendente que nos permitiria sair sem máscara para nos encontrar em cafés e shoppings. Na ausência de regras claras e firmes, individualistas que somos, criamos as nossas próprias regras: já nos encontramos em bares para os embalos de sábado à noite com uma garrafa de cerveja bebida no gargalo.
Ao passar, de máscara – na volta do supermercado – por um desses bares com mesinhas externas e jovens em pé batendo papo e rindo muito, rendidos pela liberdade recém conquistada, lembrei do cachorro robô! Como seria o seu comportamento? Ensurdecedores latidos atrapalhando toda e qualquer conversa, e por absurdo, será que o policial, correndo atrás do faro do “animal”, encontraria os libertos e recolheria o CPF de todos ali reunidos para depois a prefeitura os multar? Ou os desculparia, aceitando uma cerveja ( o novo Lulu, em posição de descanso, patinhas mecânicas recolhidas), porque afinal, vamos considerar, estavam ali para comemorar o fato de que o vírus já está vencido a exemplo do final na última copa do mundo na qual a Alemanha ganhou de 7 x 1 contra o Brasil.
Mudei de calçada com medo! Um estranho sentimento assaltou-me a ponto de encontrar certa dificuldade em respirar já considerando a possibilidade de ter sido contagiada, não pela alegria, mas pelo corona-19.
A partir de agora, estamos semi liberados do ficar em casa, não sabendo se há risco de voltar para o confinamento total, caso o vírus venha a mostrar com mais virulência suas garras. Tomara que a notícia de sermos nós, brasileiros, a descobrir a vacina contra o mal seja não só verídica, mas eficaz. Pois se a existência do vírus não passar de uma mesquinha política de preservação de poder estaremos realmente perdidos e todo o cuidado, individual e coletivo, será pouco.
Sabemos das consequências econômicas e sociais que atingem os que perderam seus empregos, porém acredito que há outras saídas além da abertura mesmo que gradual, em que os números, aparentemente, parecem resistentes a diminuir. Não temos cachorros robôs, educados para impedir a progressão dos números brasileiros!
Passo aqui para o meu diário apenas uma opinião sobre o assunto que conheço tanto quanto aqueles que são a favor da reabertura de shoppings e comércio.
Qual o receio? Acho que iremos vivenciar “um contato estranho”, inédito, um estranhamento com quem estiver perto ou esbarrar em nós.
O Outro se tornará o portador da nossa possível morte!
Amor, bondade, compaixão, sentimentos intensamente proclamados e praticados durante o período do confinamento, no pós vírus (PV) podem se evaporar. Nossa vida é mais importante do que estes sentimentos quando ela corre o risco de morte. A tendência é nos salvar em primeiro lugar. Heróis desconhecidos sempre houve. Heróis que doaram suas vidas para salvar o Outro. Mas infelizmente não representam a maioria! (eu, por exemplo, não pertenço a esta minoria…)
A perspectiva de continuar nos protegendo contra aquele que se tornou o “inimigo” possivelmente infectado, nos afastará, desconfiados, temerosos e perdidos em direção à uma vida reclusa e solitária convivendo com o medo do nosso igual, o ser humano. Este resultado, creio, causará danos que nada têm a ver com o tempo em que ficamos confinados. Vamos aguardar o resultado!
Bom dia Bettina é especialmente bom ao
amanhecer, ter por perto seus escritos e
lê-los, apesar do assunto sério a leveza e
cordialidade sua são notórias. Agradeço
esses momentos de sua visita a nossa bem ou mal resolvida vida pandêmica, anêmica, esquisofrênica que as vêzes se
parece com filme de ficção que vira série e nunca mais vai acabar se depender só dos que nos governam. Saudações.
Carissima Naly,
Seu retorno é de tal ordem importante que o farei diretamente à voce, primeiramente pedindo desculpas por deixá-la sem resposta.
Estive fora de SP em lugar sem internet. Esta é uma das razões, a outra, quando voltei à pandemia me atrapalhei toda perdendo o descanso
adquirido sem ela e sem comunicação. Só olhei para a natureza e o horizonte.
As suas palavras foram afetivas e fiquei super agradecida Você não tem noção do valor disso para um escritor!
Suas observações me fizeram tão bem ao ponto de continuar escrevendo assuntos sérios mas com leveza.
Digo isso porque estava desistindo : assunto sério parece que não é o conteúdo preferido hoje em dia.
Um abraço carinhoso e muito obrigada 🤗