30 de junho de 2020
Este título não é de minha autoria, mas vem a calhar. Vejamos se faz sentido! O texto, creio, não será longo porque a crise em geral – noves fora o covid-19 –, não conseguirá exterminar os variados vírus com os quais convivemos diariamente.
Hoje, só vou me referir a dois: ao vírus corona e ao vírus da intolerância. Não pretendo reforçar a face “do mal” que nos leva à angústia. (Às vezes quando ela se abate sobre mim, me faz acreditar no absurdo da terra plana , a acreditar que o eixo do mundo virou de ponta cabeça, que o beco não tem saída e que não há luz no fim do corredor, dizendo a mim mesma que tudo vai passar e não darei bola ao mal – estar.)
No século XX, usava-se a expressão “não dar bola “quando “estávamos a fim de alguém” e essa pessoa “não estava nem aí “, dizia-se que este alguém “não dava nem bola pra gente!)
Hoje não sei como seria: ouço bastante o f…-se: faz sentido visto que não vivemos mais no século passado e sim num século – ao que tudo parece – de contínuas e viscerais contradições. Não creio ser apenas uma questão de semântica, mas como diz a canção: Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia …
Curiosamente, porém, no fim e no fundo, apesar de tantos pontos de referência que deixaram de ser, não se perdeu a vontade de namorar alguém que não quis nos namorar. Namorar, gostar, amar ainda existe e sabemos que é bom, mesmo se transitório. Soube de um casal – ele vive bem ao norte da Alemanha e ela ao sul da Dinamarca – que, na vigência da covid, se encontraram na fronteira entre os dois países. Montaram uma mesa com direito a chá, bolo e pão com geleia. Sentados, um de cada lado, mas obedientes às regras de distanciamento social. Muito legal!
Hoje assisti uma aula do Professor Luiz Felipe Pondé e imaginei extrair algumas observações que podem nos ajudar a aceitar essa explosão de ódio ( esta praga mortal e destruidora do vírus da intolerância, continuadamente propagada nos quatro cantos do mundo) e a explosão do covid- 19 ( esta bolinha de borracha colorida que aperto entre os dedos para minimizar a artrite).
O tema da aula foi sobre A Contingência, A Fragilidade, O Controle.
A intolerância é uma contingência. O Covid-19 idem. Um nos confronta com a irracionalidade enquanto o vírus nos mostra a dificuldade em aceitar as consequências do seu ataque. Ambos são contingenciais e nos obrigam a conviver com a violência de ambos enquanto percebemos quão impotentes somos perante os dois.
Quero crer que o vírus da intolerância sobrevive por conta da falta de amor na fronteira, ou seja, encontrar pontos que nos unam nos pontos que diferem de nós mesmos. O corona poderá sobreviver por muito tempo por não termos meios para controlar pandemias. Enquanto ambos avançam, convive-se com a perplexidade sobre o nosso mundo contemporâneo, tão sabido, tão avançado, mas incapaz de nos fornecer uma explicação convincente para ambos os casos. Na verdade, creio eu, não há explicação! Há teorias, muitas!
Os vírus (no plural) e o vírus da intolerância irão embora na hora que lhes aprouver! A contingência aparece para ficar quando muito minguar na sua força. Mas não desaparece. Se esconde e volta! A Guerra é uma contingência, por exemplo.
Pessoalmente sinto-me impotente ao chegar nos 70 dias de confinamento. Há uma nuvem, pouco transparente de raiva, uma revolta que vem se propagando de várias maneiras por conta de contingências que achamos poder controlar. No início da pandemia acreditei que a contingência do covid-19 baixaria “a nossa bola” – não mais no sentido que empreguei no início deste texto – mas que talvez nos tornássemos menos pretensiosos sobre nosso poder de controle sobre tudo e todos, um desejo permanente no ser humano. Quanto à intolerância, ela é a que melhor representa o humano. Não gostamos – apesar de negar veementemente – do que é diferente da gente. Não sei por quê! Podemos até atribuir aos deuses o que não conseguimos identificar, mas as contingências comandarão o movimento e a sua própria trajetória, seu ciclo próprio de vida. Não é o acaso e nem uma vingança dos deuses porque somos maus. Ambos os vírus são o que são, ambos uma pandemia como todas as realidades que não temos como dominar, ambas velhas conhecidas que a História conta.
Gostaria muito que esse escrito transmitisse esperança na nossa habilidade humana de aceitar aquilo que não temos capacidade para mudar a não ser em nós mesmos. Seja perante a pandemia do covid, seja perante a intolerância impossível de não enxergar ambas e cujo desafio o século XXI desconhecia nessa magnitude. Uma batalha de luzes e sombras na qual já entramos perdendo.
Boa tarde, boa noite, bom dia,
Um abraço de esperança mesmo se deitei nesta página em branco uma realidade incomoda.
Bettina