20 de agosto de 2020
A Pandemia não chegou ao fim, embora para a maioria sim! Decretaram, por conta própria que o vírus morreu! Uso uma imagem simples e literal para este momento: morrer na praia! De mansinho, sem alarde e número apurado.
Sim, estou soando um alarme, segundo o meu ponto de vista.
Os corajosos inconscientes, não aguentando a prisão do confinamento, saíram como boiada estourada para o pasto atrás de grama fresca. Sobraram em casa os não corajosos conscientes.
Eu sou um deles. Segundo meu raciocínio, apesar da curva descendente de mortos, continuamos sem saber nada a respeito dos humores desta corona 19.
Perguntas que levam às dúvidas: infectados sem sintomas são transmissores? os curados são transmissores ou são parte do rebanho imunizado? Dentistas, cirurgiões plásticos, ortopedistas, têm hoje seus cinco segundos de glória ao dar sua opinião em vídeos que, por sua vez, alimentam as notícias contraditórias à espera da vacina.
Acredito que Papai Noel não vai descer pela chaminé este ano. Diremos aos pequerruchos que ele “pegou”o Covid!
Não me deleito ao lhes escrever estas linhas tendenciosas, infiltradas pelo pessimismo. Como escrevi no diário número 25 , estou confusa por não mais me reconhecer como terráqueo. Quem sabe, um dia qualquer, poderemos perceber uma REALIDADE permanente.
Por exemplo: usaremos máscaras continuadamente? Aceitaremos a pandemia como sendo nada mais do que a natural sequência darwiniana do Existir?
Tentarei aqui, para mudar este assunto cansativo da pandemia, comentar sobre a felicidade na pandemia.
Esse tempo esquisito – acontecendo enquanto escrevo aqui – abriu para mim um novo horizonte que me alegra diariamente.
Durante o tempo da crise vivenciamos períodos específicos – uns mais outros menos. Saímos da novidade à depressão e da depressão para este interregno de falsa liberdade de que não vamos mais morrer, (ponto este que discordo; o vírus pode contra-atacar!).
Hoje, ao refletir regressivamente sobre a crise, notei que algo essencial em mim mudou e isso me deixa feliz: as inverdades que me incutiram de criança, sem perceber, transformaram-se em confortáveis conceitos de bem viver.
Minha mãe – meu pai menos – tentou me ensinar regras que segui à risca até aqui apesar de odiar os seus arrazoados. Por exemplo:
mãe: “Acorda! Tempo é dinheiro!” Tudo que eu teria que fazer no dia custava dinheiro (escola, aulas particulares (de acordeom) esportes (tênis)…
hoje: Acordo tarde, a hora que assim me agrada. Não toco acordeom e não faço esportes.
Mãe: “Não lave o cabelo todo dia porque a raiz tem uma gordura que os mantém sadios. Em lavando demasiadamente perdem o brilho.”
Hoje: lavo-os todos os dias por medo da contaminação e eles continuam brilhosos como sempre foram.
Mae: “Não use havaianas porque é feio.
Hoje: Só uso havaianas há seis meses.
Mae: “Não deixe louça suja na pia para lavar amanhã Tem que lavar na hora.”
Hoje: Não por pirraça, mas quantas vezes não deixei a louça na pia porque a Netflix e seus seriados me matam de curiosidade. Qual a diferença em lavar na hora ou amanhã?
Mãe: “Arrume a sua cama” dizia peremptória.
Hoje: Detesto fazer cama e hoje simplesmente não faço. A noite dou uma ajeitada e durmo igualmente bem.
Mãe: “Nunca coma da panela. Para isso existe o prato.”
Hoje: Preciso confessar: algumas poucas vezes o fiz, mas da frigideira (omelete, ovo frito, esquentar um macarrão). Compensei a solidão com a falta de vontade de lavar o prato.
Mae: “Compre sempre dois itens do mesmo produto para não faltar nunca. Um no uso, outro de reserva.
Hoje: este conselho aceitei. Comprava sempre dois para não ter que sair correndo na falta do último. Repunha um – na próxima compra – e observando as datas de vencimento, a última passava a ser a primeira. Hoje tenho oito produtos (não perecíveis) iguais na dispensa e manterei este número pois há sessenta dias, para quem detesta fazer compras de supermercado, encontrei a solução perfeita.
Enfim, poderia elencar uma longa lista de aprendizado inútil que nesta pandemia descobri serem desnecessários para se viver bem. Adotei, – para o resto da minha vida, – o contrário das admoestações desagradáveis que minha mãe tentou me ensinar e sabem o que descobri nesse período obrigatório de reclusão – e que minha mãe desconheceu?
NA VERDADE, SOU PREGUIÇOSA!
Ao mudar o hábito não sinto mais culpa por sê-lo!
Acreditem, não vivo na sujeira e na bagunça dentro de casa, apenas ajustei minha preguiça endêmica ao que “deveria” fazer ou ao “certo” a ser feito.
Acomodei-me aos tempos e vou continuar com os novos hábitos que a pandemia deixa para mim:
Felicidade, sem culpa!
Boa tarde, boa noite, bom dia,
Sempre,
Bettina