30 de agosto de 2020
Ontem, ao ir almoçar no shopping, tive a sensação de me encontrar no Zorroland. Uma visão sobrenatural!
A máscara veio para ficar?
Um filho me convidou e só por isso rompi a certeza de que não era ainda hora de sair de casa.
– Por que você “deu prá trás” e mudou de ideia, perguntou meu neto?
– Porque eu estava morrendo de saudades suas”!
Munida de duas máscaras sobrepostas, apesar de ela criar espinhas em torno do nariz – ao menos do meu – observei a multidão passeando em família, todos devidamente mascarados e alguns até com uma espécie de visor plástico por cima.
Sei ser lugar comum, mas não foi possível deixar de imaginar e vestir as pessoas com uniformes prateados colados ao corpo como nos filmes sobre o futuro, embora o dia estivesse quente, as mulheres de mini saia e os homens de calção e sandálias. Vislumbrei esta multidão de transeuntes com colete e botas altas (também prateadas) e para arrematar, um capacete de cristal blindado controlando todas as nossas necessidades diárias e sinais vitais. Não é mais possível negar que o mundo se tornou um grande criadouro de vírus de diferentes perigos para nós humanos. Perigos estes que o mundo científico ainda nem cogita e, como ao corona, abana as mãos em seu desconhecimento. Temos que aceitar e devagar nos adaptar a esta realidade com pressa de transformação.
Mas voltemos ao presente ilógico: usaremos máscaras por muito tempo ainda por medo de algo de que não temos mais medo? Ou virou um vício uma vez que não acreditamos mais em contágio pela corona? (Já me pego saindo de casa sem máscara. Paro na primeira farmácia e compro uma porque me sinto um E.T. sem ela!)
Não deixa de haver uma certa falta de lógica nisso tudo (não que em outras épocas já não tenha sido igual…) O consciente – ou os médicos pesquisadores – dizem que ainda é possível “pegar “o vírus enquanto o nosso inconsciente diz o contrário!
Um contra senso, não é? Durante a pandemia, usávamos máscara porque fazia sentido: a morte rondava! No momento em que estamos nos locomovendo por entre a multidão, qual a necessidade se não mais acreditamos em contágio? Álcool? lavar as mãos a cada minuto que tocou em algo. Se nos encontramos em restaurantes com mais pessoas – sem máscara – por que usá-la após o almoço? Ou ainda qual a lógica em não mais usá-la quando em contato com amigos por estes terem se comportado conforme as regras durante a pandemia?
Mas nós humanos gostamos de acreditar que somos imortais e assim enganamos a nós mesmos, afinal nos enganamos com tantas outras fatalidades: nos enganamos no voto ao acreditar em discurso de político, nos engamos na amizade ao primeiro acolhimento e abraço de terceiros, no amor e no casamento, nos enganamos quanto a moral/ética da maioria das pessoas e por aí vai… Eu me engano o tempo todo, caso contrário como aprender e acreditar na vida que acontece independentemente de nós!
Creio, contudo, que haverá uma mudança de verdades propagadas e que iremos baixar a bola em dois itens relacionados a Valores:
Valores estão mudando sendo o mais potente o do Tempo. Seria de bom alvitre pensarmos como aplicá-lo de forma mais econômica, talvez menos comunicação inútil entre pessoas, talvez procurando informações que possam enriquecer nossa compreensão e consequente visão de mundo.
Outra maneira de baixar a bola é, ao passar em frente às vitrines do shopping, sentir morto o impulso gastador de precisar ter o Objeto de Desejo. Perguntar-se se precisa de mais uma bolsa, mais um sapato, roupa?
E fiquemos atentos: temos mais e mais perguntas a serem feitas sobre esta pós-epidemia, que ainda é, mas não é mais. Como e onde – e se – ocorrerão transformações? Não esqueçamos, o mundo está confuso consigo mesmo!
- Ocorrerão realmente as tão necessárias mudanças na economia mundial, no quesito social, no comportamental, no estilo de vida parcimonioso?
- A briga pela sustentabilidade do planeta corre o risco de romper o seu ciclo de continuidade?
- Teremos consciência de que fora deste planeta que habitamos morremos todos de sede e fome?
- Haverá mais tolerância e menos cobranças impossíveis de se concretizar no curto prazo?
- Menos pobres e menos extravagantemente ricos?
Se despertamos, valeu!
Abraço esperançoso,
bettina