Transcrevo trechos de um artigo que acredito contribuirá com um dos sentimentos mais escuros da nossa alma nesse momento acerbado pela pandemia. O artigo é de Simon Critchley para o jornal americano New York Times.
O artigo descreve o cenário que cada um de nós pode estar vivendo, e quem sabe, pode vir a aliviar a enorme decisão e responsabilidade de continuar a ficar em casa. Seu conteúdo é filosófico e eu não saberia escrever tão clara e eficazmente quanto o texto do articulista (abaixo). Acredito que abre novos recursos para reflexões que podem nos guiar nesses momentos em que o medo e os pensamentos sobre a nossa finitude emergem em nossas cabeças.
Por que o publico no meu site? Porque estou com medo! Um medo difuso, borrado. Ler o texto me fez bem. Essa história do coronavírus me diz respeito, igual para qualquer Outro. Eu e o Outro podemos morrer daqui a pouco!
E o jornalista pergunta:
Como podemos, ou devemos, superar isso?
Há muito tempo, a filosofia tem sido escarnecida por sua prática inútil, seu registro histórico de três mil anos não conseguindo resolver os problemas mais profundos da humanidade. Assim, pode ela nos ajudar nesse momento difícil? Pode a filosofia oferecer alguma forma de iluminação, até consolo, nesta nova realidade devastadora, marcada pela ansiedade, pela dor e pelo terrível espectro da morte? Talvez isso: filosofar é aprender como morrer.
Mais além Critchley exemplifica com um pensamento de Montaigne (francês, filosofo e escritor do sec. XIV):
“Ao aprender como morrer, ele desaprendeu como ser um escravo”.
Essa é uma ideia assombrosa, qualifica o jornalista: a escravidão consiste na servidão ao temor da morte. A liberdade, ao contrário consiste em aceitar nossa mortalidade, o fato de que estamos destinados a morrer. A existência é finita. A morte é certa.
E afirma:
Desde Aristóteles sabemos que o medo é nossa reação a uma ameaça real do mundo. A ansiedade, ao contrário, não tem um objeto particular. Nenhum urso está à minha porta. É um estado em que os fatos particulares do mundo desaparecem da vista. Tudo parece insólito e estranho. Uma sensação de estar no mundo como um todo, de tudo e nada em particular. Eu diria o que muitos de nós estão sentindo nesse momento é esta profunda ansiedade.
O conselho do articulista, apoiando-se em Blaise Pascal (matemático, físico e teólogo francês do sec. XVII) é:
Podemos tentar transformar a sensação básica de ansiedade de algo devastador em alguma coisa que permita e seja capaz de dar coragem. Pascal nos compara ao junco, o elemento mais frágil da natureza que pode ser eliminado por um vapor- ou uma gotícula que está no ar.
E segue Critctley:
O universo pode nos esmagar, um pequeno vírus pode nos destruir. Mas o Universo não sabe nada disso e o vírus não se importa. Nós, pelo contrário, sabemos que somos mortais e nossa dignidade consiste nessa ideia de Pascal:
“Lutemos para pensar bem. Esse é o princípio da moralidade”.
O jornalista enxerga nessa afirmação que a fragilidade e vulnerabilidade se coloca como o oposto da morbilidade e qualquer pessimismo vão. Esta é e chave para nossa grandeza. Nossa fraqueza é a nossa força!
Espero que estes trechos extraídos de um longo artigo, – que certamente não esclarece profundamente o que grandes pensadores já refletiram sobre o tema da morte, de algum modo, torne a nossa ansiedade e ou medo, agora, menos penosos.
O conhecimento tem como missão agregar valor aos nossos sentimentos e pensamentos!
Desejo que esta reflexão sobre a nossa finitude lhes inspire força ao aceitar que este imprevisto, um dia, vai acabar. Enquanto assim não for, lhes inspire coragem para o tempo que ainda for necessário nos protegermos do Covid-9.
Boa noite, bom dia, boa tarde.
Um abraço
Bettina