Jornal da Tarde, 08 de março de 1996
Transcrição
Empresarias de Sucesso
A marca de quatro mulheres no comando de seus negócios
A jornalista Bettina Lenci entendia muito pouco de negócios quando morreu o seu marido, o engenheiro Walter Lorch, e ela teve de assumir uma empresa endividada. Hoje, 21 anos depois, a Transportadora Translor é a líder no mercado de transporte de automóveis e projeta um faturamento em 1996 de cerca de US$ 100 milhões. Milagre? “Não, muito trabalho”, responde Bettina, 50 anos, que comanda 380 funcionários administrativos e 500 caminhoneiros — a grande maioria homens.Assim como Bettina, outras mulheres tomaram-se as principais responsáveis pelo crescimento e sucesso de importantes empresas nacionais. As irmãs Regina e Simone Yazbek, por exemplo, tinham 23 e 20 anos, respectivamente, quando assumiram a locadora de empilhadeiras Movicarga, que pertencia aos pais. Passados 9 anos, a locadora tranformou-se numa empresa que, além de alugar empilhadeiras, presta todo tipo de serviço na área de movimentação de carga interna, sendo a primeira do mercado. O faturamento, que era de US$ 2 milhões, passou para USS 12 milhões em 1995 e neste ano deverá chegar a USS 20 milhões. “Este ano, vamos pela quinta vez trabalhar para o Grande Prêmio de Fórmula 1 de Interlagos”, orgulha-se Regina.
Apesar de ser um ramo eminentemente masculino, a empresária afirma não ter sofrido muito preconceito. “No começo, os fornecedores, concorrentes e os próprios funcionários ficavam desconfiados e testavam um pouco a gente”, lembra. “Depois, quando mostramos que o trabalho era sério, eles começaram a nos respeitar”, conta. “Mas, se estou numa reunião externa e digo que sou empresária, eles logo perguntam se vendo bombons”, comenta.
Em 1986, a dentista Cristiana Arcangeli fechou seu consultório na Rua Haddock Lobo e montou, num sobrado alugado na Vila Olímpia, uma pequena empresa de cosméticos, a Phytoervas, com apenas 3 funcionários. Cristiana dispunha de USS 15 mil — “50% consegui no banco, o resto veio do meu ex-marido”, lembra.
No final deste ano, se tudo der certo, a Phytoervas vai faturar USS 48 milhões. O grupo, que conta com 5 empresas, 600 funcionários e tem uma fábrica de 7 mil m2 em Alphaville, passou a deter a exclusividade das vendas de 14 marcas importadas.
“Mas não foi fácil”, diz Cristiana. “Como toda mulher que trabalha fora, faço dois turnos: durante o dia na empresa e à noite em casa”, afirma. “Para os homens é muito diferente. Eles chegam, dizem que estão muito cansados, tiram o sapato e vão assistir à televisão”, ironiza.
por Rogério Gentile