Amor de um Umbigo Só
Armando não conseguia dormir sozinho em um quarto desde criança. Habituara-se a dormir ao lado dos pais e irmãos, apenas separado por uma cortina de lençol.
Armando não conseguia dormir sozinho em um quarto desde criança. Habituara-se a dormir ao lado dos pais e irmãos, apenas separado por uma cortina de lençol.
O Aranha, como o chamavam na intimidade, não era um homem bom. Tecia sua rede fina e negra por sobre pessoas e fatos. Não maltratava as pessoas, ao contrário, estampava ar de compreensivo, sorria devagar mostrando dentes amarelados, assim como os dedos de nicotina e muito café.
Ela não era mais tão jovem para sentir tanta saudade dos pais, mas imaginou-os ainda vivos e se entristeceu. Por conta desta tristeza irrecuperável soube ter chegado a hora de visitá-los depois da última vez que chorou à beira dos túmulos ao enterrá-los, vinte e cinco anos atrás.
“Damasceno, quem é esta mulher que chora”, perguntou ao ar rarefeito, D. Laura, ao lado do caixão. Ela calculou ser uma mulher miúda, passada dos sessenta anos que chorava discretamente, lencinho de renda, olhos fixos no seu marido. “Será ela a tal”?
Cortinas e colchas de quartos de hotel são os marcos que identificam a circulação de muitas pessoas pelo mesmo espaço. A sensação é a de que cada uma que ali pernoitou levou um pouco da vida delas consigo. Sem dono, mesmo no mais luxuoso hotel, as cortinas e colchas parecem sempre velhas e abandonadas. Murchas!…
Quem ler a carta vai se perguntar do porque do título, mas precisa primeiramente ler o que o autor quis dizer. Eu a encontrei, por acaso, amassada na lixeira da minha colega de escritório. Essa empresa nos confina em baias só identificáveis por que o ocupante deixa – ao sair do escritório – uma flor…
Em cima da mesinha, seus livros. Sobre a cadeira, a roupa usada do dia; espalhado sobre o banco, o resto. Um abajur e o vaso com uma flor oferecida. Sombras criadas no pátio, amareladamente iluminado, adentravam por duas grandes janelas sem venezianas. Esvaído de tempo, o pano da cortina marcado por cada hóspede que consigo…
O quarto de um convento é um quarto de passagem no qual se entra, mas não se paga na saída. Se suas paredes fossem páginas escritas de uma revista feminina, estas estariam na seção de perguntas e respostas aos consultores sobre sexo. Porém, como são escritas em papel bíblia, elas castigam quem ali as inscreveu.…