O Divino

A Perda – vazio que rasteja como um animal humilhado por dentro da gente, silencioso à noite, feroz ao raiar do dia – humaniza o Homem. A gosma verde gruda nas paredes da alma e transforma-se em Dor. A grossa capa, como um tapete de trama esburacada, gruda no corpo e ilude a Solidão. A…

O Porta Retrato

Os porta retratos eram lindos. Quadrados, redondos, minúsculos, em madeira, prata ou ouro entalhado ou lisos. Brilhantes ou opacos.  Dispostos em cima de qualquer superfície, um estranho, ao entrar numa casa já podia, sem nunca ter estado lá, adquirir certa intimidade com os moradores ou, presenciar situações de momentos como casamentos, viagens e nascimentos. Podia…

Presença

Olhei para uma taturana gorda, longa, esverdeada, listrada de amarelo, mas ela não olhou para mim. Estava imóvel, a menos de cinco cm do meu rosto, sobre a almofada que me servia de travesseiro. Fiquei intensamente muda como uma naja a me hipnotizar.  No mesmo instante lembrei que, criança, neste mesmo sítio, uma taturana, a…

A Dois

Seus corpos procuram, movimentando-se ora para os lados, ora para as beiras, ora para o centro e margens, o acesso à alegria e prazer; procuram a vertigem do acontecendo, a humanidade em nós, o momento achado. Os corpos usados sem limite de fronteiras. A tentativa dos amantes é prolongar o segundo seguinte no qual eles…

O Amor nos Tempos do Instagram

Essa crônica não gira em torno de um casal, amor ou sexo. Gira em torno de uma  relação “instagranizada” “facebokizada” “whatsappizada”. Ilustra uma relação liquefeita através das redes sociais. São dois personagens que transam sob o vago “não sei”. M. é um explorador de regiões ermas. Das trilhas montanhosas, lá onde o oxigênio falta,  envia…