Leio: da melhor idade
Ouço: para terceira idade
Falo: sou idosa, dá licença!
Vejo: (na mídia) felicidade para mim.
Nada que estes meus sentidos captam mudam a condição de que somos velhos, ou seja, a Natureza embrulha o Ser Humano no seu Tempo e não no nosso. Queiramos ou não, estamos inclusos nos compêndios médicos na categoria de velhos porque é o que somos e como nos sentimos. A mídia e a sociedade nos enxerga como na melhor idade. Uma definição perniciosa e lavada mentira de quem a inventou.
Velhos não estão na melhor idade. Estão na pior idade. A melhor idade, quase uma imposição para nos manterem com 20 anos a menos.
Se não vejamos:
Não somos percebidos como tendo usado a caneta tinteiro e a caligrafia para nos comunicar tampouco somos percebidos ciosos em superar códigos enraizados em nossos hábitos e costumes.
Não somos percebidos pelo estresse que passamos para nos adaptar às mudanças – continuadamente substituídas – instaladas no nosso cotidiano. Não se apercebem que estas implicam em perdas conquistadas.
Despendemos nossa energia – já na reserva – para compreender e aceitar que a medida tempo não é mais a mesma. Buscar o prosaico copo d’agua entre o quarto e a cozinha no meio da noite, cansa.
A mente esquece, o corpo dói. Ele tenta, mas não consegue levantar-se de sofás baixos e cadeiras sem braço.
Devidamente catequizados, devemos ser velhos de idade e jovens de cabeça!
É verdade absoluta que nem sempre e nem todos atingem este ideal de “felicidade” na velhice. A medicina não poupa esforço e dinheiro para nos fazer viver mais do que o necessário. Mesmo com a cabeça boa, o corpo e os sentidos naturalmente falham. Frustra e deprime quem não consegue acompanhar a expectativa imposta.
Pergunto a cada vez que vou ao cinema, porque não se emprega pessoas acima dos 50 anos? Se dessem aos “velhos”, trabalho e salário, nós seriamos totalmente capazes de pagar a entrada inteira. Faria-nos sentir realmente inclusos em uma sociedade em constante transformação. Pagar meia entrada, como as criança e estudantes, nos torna inúteis e feridos nas rugas e dignidade.
Dirão, não sem razão, que nem todos velhos conseguem ter a cabeça boa e o corpo em forma. Concordo! Conquistamos benesses, sem dúvida nada desprezíveis para quem as necessita. Pessoas de idade que vivem de sua mingua aposentadoria e desejam ir ao cinema devem beneficiar-se deste direito. Uma carteirinha honesta faria justiça social!
Por outro lado, velhos treinados nas academias não deveriam estacionar na vaga para idosos. Eles devem ser perfeitamente capazes de fazer manobras entre colunas. Já presenciei, em fila de aeroporto, uma família numerosa de jovens, usar a presença da mãe idosa para furarem a fila e entrarem em primeiro no avião. Nada a que se fazer. É falta de educação e leniência dos encarregados da fila.
Assim, as conquistas e suas contradições chegam até mim, ( 70) em sinais trocados.
Porém, como não acredito em soluções arbitradas simplesmente como certas ou erradas, para não criar uma polemica inútil, atenho-me ao politicamente correto. Tendência atual que facilita equacionar questões a cada dia mais complexas, em si conflituosas e insolúveis.
Deixemos portanto que a teoria resolva as contradições inerentes, desde sempre, às Sociedades e aos Homens!