No café

Um dos prazeres em São Paulo é ir aos sábados a uma livraria e lá se perder pensando no que outros já pensaram por nós e, saciados, tomar um café com brioche na lanchonete da livraria. Este era o cenário de uma conversa proibida que ouvi, hábito deselegante, mas sempre assunto para uma crônica. O risco é pegar…

A inquilina

“A alma é aquela coisa que pergunta se a alma existe” (Mario Quintana) Lugar Conhecido é onde vive o escritor. A alma é inquilina do escritor e a quem se revela do chão cinza da sua casa. A Inquilina tem suas lembranças entrelaçadas às do escritor, toma o seu corpo para si, vive as mesmas experiências.…

Alvorecer

Abro meio olho. Alvorece através da cortina. Quanto tempo ainda falta para eu levantar? Preciso me certificar com precisão: lembro que o relógio chinês que comprei na papelaria – encantada com o fato de ele projetar no teto a hora em vermelho – na segunda manhã igual a esta já estava inutilizado. Conformo-me em acompanhar…

A Barata e o Realejo

Parodiando Kant, o conceito de mundo é uma abstração que só o Homem é capaz de criar. Uma cidade grande é como uma bandeira sem mastro. Não tem dono, mas indica onde fica: São Paulo, por exemplo, tremula sem mastro, refúgio dos seus habitantes, os paulistas. Conheci um artista dos anos 70, sem sucesso algum,…

Cama de gato

Um dia, uma gata deu cria na gaveta do armário do meu pai, ele não viu e fechou a gaveta, amassando um dos filhotes. O filhote era preto. Havia sangue nas camisas brancas, não muito.  Conclui que meu pai não era um assassino de gatos, pois  havia fechado a gaveta de noite, a luz apagada.…