Para Betty Friedman
Escrevo com a intenção de lhe contar o que aconteceu com nós mulheres quando você nos incitou à liberdade jogando o seu sutiã no lixo…
Escrevo com a intenção de lhe contar o que aconteceu com nós mulheres quando você nos incitou à liberdade jogando o seu sutiã no lixo…
Há quem o julgue um andante devaneando, um qualquer. Aparenta andar sem objetivo e direção. Mas, engana-se quem o assim classifica, tanto em português quanto em francês.
Ouço um clamor, um brado surdo abafado: América Latina. É a batida de um jovem coração, largado no sofá ao meio dia. Ouço a respiração intoxicada, rinoceronte buscando ar. A sensação é de semiconsiência, semimorte. A agonia pode levar tempo, mas o bicho é forte, encontrará fôlego, sobreviverá. Brasil, neste continente, nos acordes do seu…
uma porta outra porta ambas iguais brancos diferentes nem o pintor nem o fabricante da tinta são culpados um cano outro cano ambos iguais inundam o serviço feito nem o engenheiro nem o encanador são culpados uma dobradiça outra dobradiça ambas iguais uma enferruja outra não nem o marceneiro nem o pintor são culpados uma…
Para a direita,
o velho mundo.
Para a esquerda,
terra à vista.
Abaixo da linha do Equador.
Espelho.
Vidraça.
Telhado de vidro.
Espelho de sombras alheias,
Cheias de espíritos
Mal-assombrados.
Meu avô, velho coronel, oriundo da pequena aristocracia baiana, ficava sentado em frente à uma mesa de jacarandá, à luz de uma ampla janela iluminando, por horas seguidas, um álbum de fotografias. O álbum era tão antigo quanto os 101 anos que ele viveu. Senil, folheava, página por página, voltando sempre à primeira. Ali sentado,…
A Rede foi criada para aproximar pessoas, globalizar os costumes, abolir o tempo lento, mas apoderou-se do feitiço contra o feiticeiro. Lembro quando criança de uma brincadeira conhecida como telefone sem fio. Construíamos um telefone com duas latas e um fio preso em cada ponta. Minha vizinha da janela da sua casa e eu na…
Nos almoços em casa, quando meus filhos vêm para a macarronada de domingo, sinto-me uma mãe de celofane.
Pode ser que exista: Um ponto morto que reside entre a alma e o cotidiano. É possível que exista a felicidade retida neste lugar. É possível que, neste lugar, o tempo petrifique a soma das horas e não passe. Se este espaço arejado florescer, a vida torna-se alegre, sem razão específica. Se existir, é possível…