No café

Um dos prazeres em São Paulo é ir aos sábados a uma livraria e lá se perder pensando no que outros já pensaram por nós e, saciados, tomar um café com brioche na lanchonete da livraria. Este era o cenário de uma conversa proibida que ouvi, hábito deselegante, mas sempre assunto para uma crônica. O risco é pegar…

Quarto 16

Em cima da mesinha, seus livros. Sobre a cadeira, a roupa usada do dia; espalhado sobre o banco, o resto. Um abajur e o vaso com uma flor oferecida. Sombras criadas no pátio, amareladamente iluminado, adentravam por duas grandes janelas sem venezianas. Esvaído de tempo, o pano da cortina marcado por cada hóspede que consigo…

A inquilina

“A alma é aquela coisa que pergunta se a alma existe” (Mario Quintana) Lugar Conhecido é onde vive o escritor. A alma é inquilina do escritor e a quem se revela do chão cinza da sua casa. A Inquilina tem suas lembranças entrelaçadas às do escritor, toma o seu corpo para si, vive as mesmas experiências.…

Alvorecer

Abro meio olho. Alvorece através da cortina. Quanto tempo ainda falta para eu levantar? Preciso me certificar com precisão: lembro que o relógio chinês que comprei na papelaria – encantada com o fato de ele projetar no teto a hora em vermelho – na segunda manhã igual a esta já estava inutilizado. Conformo-me em acompanhar…

A Barata e o Realejo

Parodiando Kant, o conceito de mundo é uma abstração que só o Homem é capaz de criar. Uma cidade grande é como uma bandeira sem mastro. Não tem dono, mas indica onde fica: São Paulo, por exemplo, tremula sem mastro, refúgio dos seus habitantes, os paulistas. Conheci um artista dos anos 70, sem sucesso algum,…