Presença

Olhei para uma taturana gorda, longa, esverdeada, listrada de amarelo, mas ela não olhou para mim. Estava imóvel, a menos de cinco cm do meu rosto, sobre a almofada que me servia de travesseiro. Fiquei intensamente muda como uma naja a me hipnotizar.  No mesmo instante lembrei que, criança, neste mesmo sítio, uma taturana, a…

A Dois

Seus corpos procuram, movimentando-se ora para os lados, ora para as beiras, ora para o centro e margens, o acesso à alegria e prazer; procuram a vertigem do acontecendo, a humanidade em nós, o momento achado. Os corpos usados sem limite de fronteiras. A tentativa dos amantes é prolongar o segundo seguinte no qual eles…

O Amor nos Tempos do Instagram

Essa crônica não gira em torno de um casal, amor ou sexo. Gira em torno de uma  relação “instagranizada” “facebokizada” “whatsappizada”. Ilustra uma relação liquefeita através das redes sociais. São dois personagens que transam sob o vago “não sei”. M. é um explorador de regiões ermas. Das trilhas montanhosas, lá onde o oxigênio falta,  envia…

Dr. Aranha

O Aranha, como o chamavam na intimidade, não era um homem bom. Tecia sua rede fina e negra por sobre pessoas e fatos. Não maltratava as pessoas, ao contrário, estampava ar de compreensivo, sorria devagar mostrando dentes amarelados, assim como os dedos de nicotina e muito café.

Ressurreição

Ela não era mais tão jovem para sentir tanta saudade dos pais, mas imaginou-os ainda vivos e se entristeceu. Por conta desta tristeza irrecuperável soube ter chegado a hora de visitá-los depois da última vez que chorou à beira dos túmulos ao enterrá-los, vinte e cinco anos atrás.