O Ponto
Sou um ponto dentro de mim e percebo, com alegria gloriosa, que não tenho mais que falar. Torno-me este ponto no silêncio recolhido. O ponto é só : Ponto! Sou um ponto em um espaço, vago com rumo definido. Meu ponto tem sua biruta…
Sou um ponto dentro de mim e percebo, com alegria gloriosa, que não tenho mais que falar. Torno-me este ponto no silêncio recolhido. O ponto é só : Ponto! Sou um ponto em um espaço, vago com rumo definido. Meu ponto tem sua biruta…
Aqui aprendi a amar
A receber
A me unir.
Aqui aprendi a conceber…
Crianças gostam de abrir a geladeira. Quando eu era criança, abria várias vezes por dia, mesmo sem fome. Às vezes por tédio, outras por vontade de lambiscar. Era um movimento automático. Eu ficava em frente dela, a porta na mão…
Um dos prazeres em São Paulo é ir aos sábados a uma livraria e lá se perder pensando no que outros já pensaram por nós e, saciados, tomar um café com brioche na lanchonete da livraria. Este era o cenário de uma conversa proibida que ouvi, hábito deselegante, mas sempre assunto para uma crônica. O risco é pegar…
Em cima da mesinha, seus livros. Sobre a cadeira, a roupa usada do dia; espalhado sobre o banco, o resto. Um abajur e o vaso com uma flor oferecida. Sombras criadas no pátio, amareladamente iluminado, adentravam por duas grandes janelas sem venezianas. Esvaído de tempo, o pano da cortina marcado por cada hóspede que consigo…
Não darei a Deus o direito de condenar-me. Quero julgar meus próprios enganos. Sou eu e não Ele que vive a dilaceração entre o bem e o mal. Não é ele que paga com solidão o engano cometido. Tampouco não pode explicar a miséria humana. Deus nos legou um desafio que Ele mesmo não saberia…
“A alma é aquela coisa que pergunta se a alma existe” (Mario Quintana) Lugar Conhecido é onde vive o escritor. A alma é inquilina do escritor e a quem se revela do chão cinza da sua casa. A Inquilina tem suas lembranças entrelaçadas às do escritor, toma o seu corpo para si, vive as mesmas experiências.…
Sei que existe o que não vejo. O invisível a gente encontra Entre o horizonte e o mar.
Abro meio olho. Alvorece através da cortina. Quanto tempo ainda falta para eu levantar? Preciso me certificar com precisão: lembro que o relógio chinês que comprei na papelaria – encantada com o fato de ele projetar no teto a hora em vermelho – na segunda manhã igual a esta já estava inutilizado. Conformo-me em acompanhar…
Fiz tudo que meu amigo me pediu antes de morrer. Joguei suas cinzas ao vento na encosta da montanha mais alta que já havíamos escalado. Surpreendi-me com a sensação de que, se meu amigo tivesse sido enterrado no cemitério, ainda estaria comigo. Era um amigo embaixo da terra, presente com seus ossos. A cremação, porém,…