Londres 4
Taxidermia: são os pássaros que voam no museu de história Natural de Londres. Foto: Bettina Lenci
Taxidermia: são os pássaros que voam no museu de história Natural de Londres. Foto: Bettina Lenci
Hoje o dia começou meio que inesperado! Esqueci que se pagava contas! Tanto que não sei em que dia da semana nos encontramos, guardei os pagamentos datados como se não mais existissem quando em quarentena.
Contas a pagar com apenas a metade do saldo “normal “na conta do banco. O que fazer?
Hoje vou transcrever um poema como sendo uma página do Diário em Quatro Paredes. É do meu poeta preferido Mario Quintana.
Fui à biblioteca buscar o livreto de seus poemas, depois que li no jornal duas notícias, quase escondidas, que para mim são importantes. Vou repassá-las a vocês e depois transcrevo o poema que chegou a me tocar nesse momento que nós, obedientes, permanecemos em casa.
Onde moro os apartamentos “convivem” suficientemente perto para que se ouça e veja o que se passa no apartamento em frente. Por exemplo, minha cozinha, que fica no fundo, dá para a sala de visita e para os quartos onde mora uma família.
Hoje senti mau humor. Não sei se foi por conta da difícil tarefa de me manter entre quatro paredes ou porque tive um sonho. Talvez ambos, e a perspectiva de submeter-me aos terapeutas de plantão é estranha, pois teria que contar precedentes e histórias de vida. Pelo que entendi, essas almas cidadãs estão atendendo as angústias, medos, pânicos, decorrentes da situação, sintomas que, por enquanto, ainda não alteraram o meu cotidiano. Achei esta iniciativa tão importante e benéfica, que quis compartilhar com vocês.
Observem que hoje, o dia em que escrevo, é 4 de abril enquanto vocês encontram a indicação de que é o 5º texto publicado no Diário Entre Quatro Paredes. Faltei um dia. Vai acontecer outras vezes, provavelmente. Meus álibis: dor nas costas ou cansaço excessivo com a concentração em tarefas de autopreservação.
Hoje foi um dia especial.
Dor nas costas é algo comum, em jovens e idosos, como nos denominam aqueles que nos respeitam!
Pois é, tomei coragem, vesti minha fantasia de Zorro, luvas e máscara, e cheguei na fisioterapeuta que há anos me atende com muito bom resultado. O ar em casa estava ficando rarefeito, apesar de todas as janelas abertas sentia-me uma santa na redoma de vidro.
Li em algum lugar – e para vocês deve acontecer o mesmo tantas são as mensagens – que as esqueço assim que clico na próxima.
O envio dizia: o número quarenta é simbólico. Para começar, a quarentena mundial. Dizia que o nosso ano, somado, é igual a quarenta.
Enquanto lavava louça com sabão e água fria – depois despejava água fervendo para não ficar o cheiro do detergente, – pensei em confessar vários tópicos que jamais confessaria não fosse o confinamento. O passado foi emergindo como as bolhas de sabão na pia.
Cheguei à casa de mil leitores. Estou muito contente com este resultado o que me faz desejar falar com vocês sobre este momento, com mais intimidade, digamos assim.
Não tenho a menor vontade de dar pitacos de como se comportar em casa, na rua, no supermercado. Não tenho mais pitacos para repassar de como desinfetar as mãos, os pacotes, não quero aumentar o pânico com os números que informam sobre milhares de mortos e ou contagiados.