Na juventude, tive início profissional em história da arte, fotografia e reporter. Deixei de lado essas possíveis profissões para, durante o tempo que o destino me fez ser empresária porem, sem jamais deixar de me dedicar à escrita anônima. Gosto especialmente de crônicas e de criar histórias através de contos e novelas. Ao longo do tempo, construi uma visão de mundo mais sombria em busca de personagens alinhados às virtudes, às relações afetivas, erros e acertos nas suas vidas, acompanhando seus processos de transformação. Através destes recursos e de um olhar receptivo sobre o pensamento da alma, tento transpor para o papel o Real Cotidiano de todos nós.
Menina eu passava uma temporada em sua casa. A imagem gravada na retina é dela, de costas, quase um duende, mexendo a borbulhante geleia com uma comprida colher de pau, os passarinhos vindo bicar os restos de manteiga no parapeito da janela da sua cozinha. Meu encanto era com seu gestual de malabarista ao escumar,…
Seus corpos procuram, movimentando-se ora para os lados, ora para as beiras, ora para o centro e margens, o acesso à alegria e prazer; procuram a vertigem do acontecendo, a humanidade em nós, o momento achado. Os corpos usados sem limite de fronteiras. A tentativa dos amantes é prolongar o segundo seguinte no qual eles…
Essa crônica não gira em torno de um casal, amor ou sexo. Gira em torno de uma relação “instagranizada” “facebokizada” “whatsappizada”. Ilustra uma relação liquefeita através das redes sociais. São dois personagens que transam sob o vago “não sei”. M. é um explorador de regiões ermas. Das trilhas montanhosas, lá onde o oxigênio falta, envia…
Eu me acho excluída! Não defendo ou condeno o feminismo (que coisa antiga!), mas confesso-me sem espaço para emitir o quê e porquê penso, sem que isso seja considerado correto ou incorreto. Acho que o “correto” em confronto com “o não correto” tem levado o pensamento ocidental para um beco sem saída. Incita a extremismos,…
A história de Sahra é infinita de possibilidades, mas Sahra morreu e me deixou com uma carta na mão.
Sahra foi minha vizinha durante anos e eu a conhecia apenas pelo seu bom dia, sua incansável labuta junto a um canteiro, sob qualquer tempo e estação.
Armando não conseguia dormir sozinho em um quarto desde criança. Habituara-se a dormir ao lado dos pais e irmãos, apenas separado por uma cortina de lençol.
O Aranha, como o chamavam na intimidade, não era um homem bom. Tecia sua rede fina e negra por sobre pessoas e fatos. Não maltratava as pessoas, ao contrário, estampava ar de compreensivo, sorria devagar mostrando dentes amarelados, assim como os dedos de nicotina e muito café.
Ela não era mais tão jovem para sentir tanta saudade dos pais, mas imaginou-os ainda vivos e se entristeceu. Por conta desta tristeza irrecuperável soube ter chegado a hora de visitá-los depois da última vez que chorou à beira dos túmulos ao enterrá-los, vinte e cinco anos atrás.
Quarta-feira de cinzas é o dia da introspecção sobre a farra solta, sem medidas para ser feliz. Mergulho na saudade do brilho, das cores e marchinhas. Lembrança da alegria e sorriso aberto sem motivo a não ser o do momento pleno e inconsequente. Quarta feira de cinzas é o dia seguinte dos acordes que ressoam…
O Cara me ama e odeia, ri da minha cara. É mentiroso, sem educação, sensibilidade zero. Usa a palavra em profusão, mas não fala; é um cartunista, um fotógrafo, piadista, escritor, músico, saudosista, técnico e muitas vezes, um boca roto. Às vezes um senhor (a) de idade, solitário. O CARA espalha-se pelo mundo, subentendo-se com…